sábado, 15 de fevereiro de 2014

Um ovo de Ema guaxo ou órfão.


http://avepampa.blogspot.com - Foto/design Renato Rizzaro


Somente o macho incuba, e o numero de ovos de cada ninho depende do número de fêmeas presentes e do número de machos aos quais as fêmeas podem confiar seus ovos. Bota de 20 a 30 ovos numa postura completa. Antigamente, quando a população de emas era mais densa, havia 60 ou mais ovos em um único ninho!
Os últimos ovos não são férteis, aprox. 30% do total, e espalham-se e apodrecem ao redor, embora o macho tenha o instinto de arrastar para o ninho não só ovos distantes, mas também qualquer objeto que a eles se assemelhe.
Durante a incubação ingere tanto os ovos que se quebram como as moscas que são atraídas pelos "guaxos".
Um ovo de Ema pesa cerca de 600g, o que corresponde a uma dúzia de ovos de galinha.
Só o macho choca e gira 360 graus em 24 horas, cada vez que se ajeita, puxa dois ou três ovos da beira para dentro da concavidade, garantindo que toda a postura seja chocada regularmente e pode durar de 27 a 40 dias. Os filhotes nascem todos no mesmo dia e após 24 horas os filhotes já estão de pé!
O cheiro ativo exalado pelos ovos em eclosão atrai muitas moscas que são avidamente comidas pelos filhotes que também comem as fezes dos pais. Com seis meses já estão do tamanho das mães.
Os índios Bororo (Mato Grosso), Vêem no Cruzeiro do Sul o símbolo da Ema.
A Ema é frequente em desenhos rupestres pré-históricos do Nordeste. Aparecem na Serra da Capivara durante vários séculos de 12.000 até 8.000 a.C., segundo Niede Guidon.

Fonte: Helmuth Sick

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Poster de Aves do Pantanal na Fundação Neotrópica do Brasil

Ane mostra o Araçari-castanho (Pteroglossus castanotis) pra meninada.

Teatro de bonecos "Nas asas do Vento" de conscientização sobre o tráfico de animais silvestres chega a sua primeira escola rural de Corumbá, a Carlos Carcano. A moçada adorou!

"Marja Milano: Renato e Gabi (Reserva Rio Das Furnas), nós da Neotrópica é que agradecemos pela parceria. Aliás, nós é que ficamos com a parte boa, que é justamente fazer a entrega na escola e acompanhar a alegria das crianças ao ver o lindo trabalho de vocês! Esperamos ansiosos a próxima passagem de vocês por "essas bandas" do Brasil!"

domingo, 28 de abril de 2013

Aves da Amazonia




A Reserva Rio das Furnas apresenta, com grande satisfação, o Poster Aves da Amazônia. Resultado das expedições aos biomas brasileiros, é o terceiro publicado pela Reserva. O primeiro foi Aves da Floresta Atlântica e o segundo, Aves do Pantanal.

Como nas edições anteriores, as fotos são de Renato Rizzaro, que também tratou as imagens; Gabriela Giovanka fez a revisão bibliográfica e Vítor Piacentini, a revisão científica. O apoio institucional é da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental - SPVS.

A impressão gráfica é primorosa e foi executada em policromia, com a utilização de retícula estocástica em equipamento Heidelberg, tendo como base o papel couchê 250g e aplicação de laminação fosca na parte frontal, o que dá maior durabilidade à obra.

Todos tem exatamente o mesmo formato: 50 x 70cm.

Como contribuir e adquirir este e os outros posters

Quando você adquire os posters da Reserva Rio das Furnas, contribui com a preservação e divulgação da avifauna, além de colaborar com as futuras expedições pelos biomas brasileiros.

Para adquirir o Poster Aves da Amazônia, você paga R$ 30,00 + R$ 5,40 de correio e recebe em todo Brasil.

Se você comprar dois posters, o valor fica em R$ 50,00 (R$ 25,00/cada) + R$ 7,00 de correio para todo Brasil.

Eis uma proposta bacana!

Se você já tem os dois posters anteriores (Aves da Floresta Atlântica e Aves do Pantanal) e quiser comprar somente o Aves da Amazônia, terá um desconto especial: R$ 25,00 + R$ 5,40 de correio para todo Brasil.

Adquira o jogo completo

Jogo completo com 3 posters (Atlântica + Pantanal + Amazônia) por R$ 60,00 (R$ 20,00/cada) + R$ 8,00 de correio para todo Brasil.

Também enviamos para fora do Brasil e aceitamos Paypal.

Entre em contato pelo email riodasfurnas@gmail.com





Veja alguns detalhes do Poster de Aves da Amazônia

Araçaris da família Ramphastidae

Aves raríssimas com registros somente no Parna Viruá, em Caracaraí (RR).

Pscitacidae em detalhes primorosos

O Galo-da-serra ganhou destaque merecido na composição

Novidade desta edição

No Poster Aves da Amazonia, há uma novidade especial. Cinco convidados cederam graciosamente sete fotografias para engrandecer a obra:

Dalci Oliveira, com o seu charmoso Ferreirinho-de-sobrancelha (Todirostrum chrysocrotaphum), fez crescer a família Rhynchocyclidae, da qual faz parte o Caçula (Myiornis ecaudatus), um dos menores pássaros do mundo, com 6,5cm e 5g de peso.



Edson Endrigo enviou várias opções, das quais foram escolhidas duas magníficas: uma da família Galbulidae, a Ariramba-do-paraíso (Galbula dea), e a Saíra-ouro (Tangara schrankii), da família Thraupidae.


Edson Lopes presenteou a Reserva com dois belos Bucconidae, o Macuru-de-testa-branca (Notharchus hyperrhynchus) e o Rapazinho-de-colar (Bucco capensis) além de ter dado boas dicas durante a elaboração do Poster.


Gilberto Nascimento cedeu a graciosa Ararajuba (Guaruba guarouba), o Psittacidae que Helmuth Sick sugeriu, com grande sapiência, como símbolo de nosso país.


Thiago Laranjeiras, além da foto do raríssimo Thraupidae Fura-flor-grande (Diglossa major) com apenas cinco registros no Wikiaves, todos no Monte Roraima, contribuiu com a identificação de muitas espécies.



Inspiração para a cor de fundo no Poster da Amazônia. Sim, Tapajós! Foto Gabriela Giovanka

sábado, 27 de abril de 2013

Expedição Amazonia


"Quem será o viajante do Século XXI? Em primeiro lugar há que esperar que sejam capazes de levar adiante o Pensar a Amazônia, a Pan-Amazônia, principalmente. Em segundo lugar, augura-se sejam iluminados e capazes de gestos de enorme generosidade, que não levem apenas belas fotos e histórias, e sejam capazes de ouvir e compreender, e sejam suficientemente provocadores e não meros deslumbrados e ilusionistas. E isso porque não há tempo para diletantismo, para o turismo pelo turismo, para a ventura hedonista, porque o avanço da fronteira pioneira precisa encontrar seu destino."
João Meirelles Filho - Grandes Expedições à Amazônia Brasileira - Século XX

2012 foi o ano da ansiosamente aguardada Expedição Amazônia, este "outro" Brasil que deveria ser respeitado e protegido. Sobre a Expedição, já publicamos alguns News em janeiro de 2013, tendo como fio condutor a Roda de Passarinho.

A Expedição resultou numa grande quantidade de fotos, videos e textos dos quase 80 dias e 13.000 quilômetros rodados com a bravíssima Toyota Bandeirante, apelidada de Toca de Ferro pelos amigos do povo Paiter Surui em Rondônia.

Chegou a hora de contar e ilustrar um pouco mais a experiência que possibilitou o contato com um Brasil desconhecido e a criação do poster Aves da Amazônia, com o qual pretendemos espalhar a cultura de nosso povo e a mensagem urgente de que é preciso conservar, proteger, conhecer, para incluir no mapa os 60% do Brasil Amazônico.

"Floresta sozinha é paisagem, quem dá vida à floresta é o homem."

Thiago de Mello


Gabriela e nossa casa sobre rodas na Vila Rayol, já em Itaituba (PA). Foto Renato Rizzaro

Da Reserva Rio das Furnas, em Santa Catarina, seguimos para Tibagí no Paraná onde fomos recebidos por um dos adotados da SPVS, Nicolaas e família, na também Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), Sonho Meu. Eles protegem uma belíssima área no canyon Guartelá que abriga algumas furnas com inscrições rupestres e formações geológicas com a mesma formação encontrada no Parque Estadual Vila Velha.


Sonho Meu, RPPN que protege parte do canyon Guartelá, no Paraná. Foto: Renato Rizzaro

Santa Fé do Sul, no Oeste paulista. Foto Renato Rizzaro


Dois dias de viagem e chegamos a Santa Fé do Sul, no extremo Noroeste de São Paulo. Dica de Alan Souza, através do Wikiaves.
Outros dois dias e paramos no Vale dos Sonhos (MT), orientados pelo amigo Renato Gama que nos levou direto ao Maurinho. Ficamos vários dias no Portal do Roncador, uma rara maravilha, com suas histórias e meandros.

Portal do Roncador: imponente e misterioso. Foto: Renato Rizzaro

Maurinho nos indicou Nova Xavantina (MT), uma das bases da Expedição Roncador/Xingú, que ganhou este nome em homenagem aos índios que habitavam a região. Lá, conhecemos Cocó, da família Rotta, que nos levou até algumas grutas com inscrições rupestres, sítios arqueológicos e nos apresentou ao Rio das Mortes, pelo qual tivemos o prazer de navegar.
Seguimos em direção ao Parque do Xingu pela BR-158 e, para nossa surpresa - e desencanto - tivemos que dar meia-volta em Água Boa, pois a estrada de acesso ao parque estava interditada, segundo a Polícia Rodoviária Federal, devido aos conflitos com indígenas.
Novamente, passamos na frente do Portal do Roncador e seguimos para Chapada dos Guimarães, via Primavera do Leste, pela BR-070.

Queimadas absurdas ardem Brasil afora. Nem tudo resiste...

Cruzamos a Chapada dos Guimarães em direção ao município de Alta Floresta (MT), pois tínhamos compromisso com Dona Vitória da Riva e queríamos muito conhecer a Reserva do Cristalino e a sua Fundação. Edson Endrigo nos colocou em contato com Dona Vitória durante o Avistar 2012. Ficamos quase uma semana, percorremos trilhas, torres e navegamos no rio Cristalino guiados por uma atenciosa equipe.

Filhote de Gavião-real (Harpia harpyja) nas terras da Fundação Cristalino, em Alta Floresta (MT). Foto Renato Rizzaro

Cristalino Lodge, todo o conforto no Portal da Floresta Amazônica. Foto Renato Rizzaro
Uirapuru (Cyphorhinus arada) fotografado na floresta protegida do Cristalino. Foto Renato Rizzaro

Próxima parada: Itaituba (PA). Na travessia da balsa, conhecemos o pessoal do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) que nos acompanhou até o escritório para obtermos autorização para entrar no Parque Nacional do Amazonas. Na manhã seguinte, fomos muito bem recebidos por Gilberto Nascimento e Enoc, que na época eram os bravos guerreiros que guardavam o parque. Tivemos visões magníficas da "selva" praticamente intocada, ou, antes de tudo protegida, de caçadores, madeireiros, garimpeiros e dos tais projetos de hidrelétricas absurdas que nem deveriam sair do papel. Uma agressão que não cabe no Século XXI e rende muita discussão até hoje. Veja matéria no portal ((o))eco.

Estrutura preparada para visitantes e pesquisadores no Parna do Amazonas, em Itaituba(PA). Foto Renato Rizzaro

No Parna Amazonas, à espera da Ararajuba com Gabi e Gilberto: não apareceram. Foto: Renato Rizzaro

Oficina lítica na beira do Rio Tapajós, no Parna do Amazonas: ameaçada pelas hidrelétricas. Foto Renato Rizzaro

Muitos de nossos contatos foram pela web e praticamente todos resultaram em grandes amizades, como Edson Lopes e Annelyse, que abriram sua casa em Alter do Chão (PA). Numa das saídas, caminhamos horas pelo istmo que dá um charme especial ao local, coroando de brancas areias o "caribe brasileiro", uma das mais belas praias de água doce do mundo! Edson nos acompanhou até Santarém e foi fundamental para nosso embarque Amazonas acima, rumo a Manaus.

Alter do Chão, o caribe brasileiro banhado pelo esplêndido Tapajós. Foto: Renato Rizzaro

Sanhaçu-da-amazonia (Tangara episcopus) banha-se no quintal do casal Edson e Annelyse. Foto Renato Rizzaro

Três dias de ferryboat nos revelaram um Amazonas mais vivo do que se possa imaginar. Botos cor-de-rosa rasgam a superfície de uma água barrenta, rica, cor de tudo quanto é solo que despenca das ribanceiras desse mar-doce-gigante.
Juntando-se aos isolados ribeirinhos, os aglomerados urbanos cortam a paisagem desde o limite da visão até apinharem-se na ribanceira. Aí, fica tudo triste, porque o lixo boia e empurra para dentro de nossos corações o que o intestino coletivo poderia transformar em húmus, alimento, em outra forma de vida, menos agressiva.

Para quem quer ir de um lado para outro do Amazonas: braços. Foto Renato Rizzaro

Cor de tudo quanto é jeito despenca das paredes do Amazonas, esse mar/rio tingido de solo. Foto: Renato Rizzaro

As ruas de Manaus transidas de biscateiros transformaram a Zona Franca num negócio-da-china. Quase ninguém sabe o que é HD externo, por exemplo. Ah, sim, tem o cinematográfico Teatro Amazonas, do Herzog, da Cláudia Cardinale e dos luxuosos ciclos da história do látex. Queríamos conhecer Figueiredo.

Apinhado na ribanceira, um Amazonas triste. Poderia ser muito diferente. Foto: Renato Rizzaro

Guiados pelo Gadelha fomos apresentados ao Galo-da-Serra, aparição que faz qualquer dedo tremer no disparador. Símbolo da floresta preservada, está cada vez mais raro, espremido pelas monoculturas, as tais que prometem salvar o mundo da fome, mas o que fazem é dissimular a capacidade que o ser humano tem de viver em sintonia com a Natureza. Atenção na palavra sintonia, ela pode salvar o Galo!

Frente a frente com uma dezena de Galos-da-serra em êxtase. Raios! Quem aguenta? Foto Renato Rizzaro

Renato Rizzaro e Gadelha saídos da arena do Galo-da-serra (Rupicola rupicola). Foto: Gabriela Giovanka

Caverna Maroaga, abrigo e ninho para a fêmea do Galo. Foto Renato Rizzaro



Pecado? Só do lado de lá. Foto Renato Rizzaro

Seguindo adiante, cruzamos a terra dos Waimiri-atroari, jogamos pião de tucumã, conhecemos a verdadeira história desse povo e fomos parar no Parque Nacional do Viruá, onde já foram registradas mais de 530 espécies de aves!
Vítor Piacentini fez a ponte com Thiago Laranjeiras, membro da equipe do Viruá. Thiago é fotógrafo, ornitólogo e carrega consigo uma tal caixa mágica de onde pode tirar, sem mais nem menos, qualquer ave que se queira. Exageros à parte, é profundo conhecedor da região.

Pretinho-do-igapó (Knipolegus poecilocercus) na Caixa de Surpresas do Thiago. Foto Renato Rizzaro


Ariranha na beira do igarapé da Estrada Perdida, Parque Viruá. Foto Renato Rizzaro

BR-174 abaixo e vamos cruzar o rio Solimões e passar pelo encontro das águas do Negro e Amazonas. Durante a travessia, conhecemos o casal que nos convidou para pousar em seu sítio à beira do rio Paraná do Mamori, em Careiro (AM). Gerson e Neide nos abriram a casa e o coração e nos proporcionaram uma experiência inesquecível, tanto por mostrar seu rincão, quanto por apresentar o Seu Roberval, que nos guiou até o ninhal de anhumas, onde pudemos ficar horas a observar casais aquecendo-se na manhã desdobrada em azuis rasgados por copas de samaúmas e castanheiras.
Sentíamo-nos pequenos e frágeis diante de tanta grandeza, com vontade de nos abrigarmos aos pés das árvores.
Por ali já está chegando o Programa Luz para Todos, do Governo Federal, atravessando grandes rios e levando o progresso aos mais distantes moradores. Alguns nem sabem o que é banheiro, muito menos tratamento de esgoto.

Rio Paraná do Mamori, experiência inesquecível entre gigantescas samaúmas e castanheiras. Foto Renato Rizzaro

E chegamos na BR-319, onde distâncias são medidas em torres da Embratel. Quer dizer, tudo fica perto, antes ou depois de uma torre, o que significa mais ou menos 50km. Alguns trechos foram percorridos em primeira marcha. Sobra tempo para prestar atenção aos buracos, pontes e banhar-se de igarapé e igapó. A primeira parada, já de noite, foi do "lado de cá" da balsa no rio Igapó-açu.

Os dois lados de Igapó-açu conectam a BR-319 por balsa. Foto Renato Rizzaro

Seu Antonio do Boto e Gabriela na BR-319. Foto Renato Rizzaro

Seu Antonio do Boto é o homem-natureza que encontramos do outro lado do rio. Fala com os animais, conversa com plantas, tem o espírito aberto e conta histórias dos tempos imemoriais do lugarejo, onde malucos perdidos atravessam de vez em quando, como dizem. Igapó-açu fica no meio do nada da BR-319, num trecho que já foi aeroporto e ainda é visitado por poucos caminhões de Manaus, em busca dos pescados capturados em longas viagens rio abaixo.

Seu Antonio do Boto e parte de sua grande família. Foto Renato Rizzaro

Na despedida, Seu Antonio nos falou de uma parada, duas ou três torres à frente, onde mora Dona Maria-do-vestidão, marido e seu filho Ismael. Uma nova aventura, dessa vez pelas trilhas abertas por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA e mantidas por ele e seu pai. Tivemos que aprender - na marra! - a nos equilibrar em paus roliços, fazendo a vez de pontes sobre emaranhados de igarapés e encantados pela conversa tímida e determinada de nosso desconfiado guia e griot Mael, protetor dos bichos da floresta.

Dona Maria e seu filho Mael. Foto Renato Rizzaro

Tantas torres além e chegamos ao Seu Paulo, que sonha voltar a morar ali mesmo na BR-319, com mulher e filha. Homem de poucas palavras, nos acolheu com um aperto de mão, à noitinha, ao lado da Ponte do Rio Novo. Nos banhamos à luz de lanterna, descansamos e no dia seguinte aprendemos a dobrar, cortar e montar as folhas do Babaçu (Orbignya speciosa), cobertura para a casa provisória da família. Seu Paulo conta que atearam fogo na sua primeira casa, num passado nebuloso.

O quarto da família na carroceria da camionete. Foto Renato Rizzaro
A alegria do banho de igarapé na 319. Foto Gabriela Giovanka

Paradas refrescam e descansam do volante, fazem refletir sobre a vida naquele pedaço de Amazonas onde só os fortes sobrevivem, com suas carabinas na garupa da bicicleta ou da moto, prontas para acertar onças, macacos, porcos, qualquer proteína que cruze seu caminho. Falam em proteção, em perigo, em bichos que abrem portas dos carros, sucuris engolidoras de gente, seres de outro mundo: fraqueza do desconhecido.

A estrada foi destruída, dizem, pelos donos das embarcações do Madeira. Foto Gabriela Giovanka

Caminhões carregados de troncos enormes próximos de Humaitá (AM) fizeram a tal fraqueza virar vileza e o barulho que havia ficado a 800 quilômetros de distância, na travessia do Solimões, cresceu assustadoramente na paisagem: máquinas atropelam gente, outra e outra e outra vez.

Mas - sempre tem um "mas" - Humaitá tem o melhor açaí do mundo, já nos avisara Guarim Liberato. Jornalista de Blumenau, mudou com a família para Porto Velho e de lá para Brasília, pois queria alcançar o centro febril de nosso Brasil. Com ele, iríamos conhecer Guajará-mirim, a Floresta Nacional do Jamari, navegar o rio Madeira, mas o seu trabalho na Capital não deixou, uma pena...

Fomos direto para Cacoal (RO). Indicados pelo Guarim, contatamos Ivaneide Bandeira Cardozo, da Associação Kanindé, que nos ligou com os Suruí. Batemos na casa do líder Almir Surui, pousamos na cidade e dia seguinte entramos na Terra Indígena Sete de Setembro. Estávamos prestes a finalizar nosso percurso pela Amazônia em tom maior!

Almir Surui nos concedeu uma grande entrevista. Ei-la:





























Almir Surui e Força Nacional em torno das Aves do Pantanal. Foto Renato Rizzaro

O retorno pelo Pantanal


Dali em diante, o roteiro ficaria aberto, pois já tínhamos cumprido nossa missão amazônica. Então, resolvemos relaxar e curtir o retorno à Reserva Rio das Furnas. Não sabíamos e nem esperávamos o que viria pela frente. Assim, chegamos a Poconé (MT) e dali entramos na Transpantaneira.

Dalci Oliveira na Transpantaneira. Foto Renato Rizzaro

Encontramos Dalci Oliveira na beira da estrada com uma turma de alunos. Dalci é professor/ornitólogo da Federal de Mato Grosso e havíamos trocado altos papos no Avistar 2012. Depois de um gostoso cafezinho debaixo de uma grande Piúva, seguimos até Porto Jofre, com o convite de passar na Chapada dos Guimarães na volta. Lá, conhecemos Márcio Trevisan, sua esposa Regina Deliberai Trevisan e seu filho Txai. Energia pura num encontro muito legal. Nos hospedamos na casa do casal e conhecemos um pouco da Chapada, com Dalci e família.

Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) na BR-419. Foto Renato Rizzaro


Estávamos com dezenas de posters das Aves do Pantanal para serem doados à Fundação Neotrópica. Marja Milano, Ciça, Anne e equipe nos esperavam em Bonito (MS). Então, rumamos para lá por um caminho encantado: saímos da BR-163 e entramos na BR-419 em Rio Verde, até Aquidauana.


Cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) na chuva pra ficar mais bonito. Foto Renato Rizzaro

Em Bonito, passamos rapidamente, com tanta saudade de casa que nem deu tempo de rever nossos queridos amigos. Novamente, como em 2011, fomos abençoados com um pé d'água daqueles!
De Bonito para a Reserva Rio das Furnas, o caminho estaria traçado.


Agradecimentos

Alan Souza (Santa Fé do Sul - SP)
Aleixo Sapateiro e família (Humaitá - AM)
Almir Surui e família (Cacoal - RO)
Amilcar Oliveira (Ilha de Santa Catarina - SC)
Ana Cavalcante (Wikiaves)
Anselmo d'Afonseca (Manaus - AM)
Antonio do Boto e toda a vila de Igapó-açu - AM
Beato e familia, JA Auto Peças (Itaituba - PA)
Beatriz de Aquino Ribeiro Lisboa - ICMBio (Boa Vista - RR)
Chicoepab e equipe da Associação Metareilá (Cacoal - RO)
Cocó e família Rotta (Nova Xavantina - MT)
Christian Andretti (Wikiaves)
Dalci M M de Oliveira e família (Cuiabá - MT)
Dona Maria, Seu João e Ismael (BR319 - km300 -AM)
Ebenézer Souza Soares (Tibagi- PR)
Edson Endrigo (São Paulo - SP)
Edson Varga Lopes e Annelyse (Alter do Chão- PA)
Esmeralda e Comunidade da Vila Rayol (Itaituba - PA)
Fabiano Oliveira (Chapada dos Guimarães - MT)
Fábio Menezes de Carvalho (FLONA Tapajós - PA)
Flavio Kruger (SPVS)
Gerson e Neide (Careiro - AM)
Gil Serique (Alter do Chão - PA)
Gilberto Nascimento e Enoc (PARNA Amazonas - PA)
Guarim Liberato e família (Brasilia - DF)
Gadelha, o guia (Presidente Figueiredo - AM)
ICMBio Boa Vista - RO
ICMBio Itaituba - PA
Ingrid Macedo (Wikiaves)
Ivaneide Bandeira Cardozo - Associação Kanindé (Porto Velho - RO)
Izan Peterlle (Chapada dos Guimarães - MT)
Jarbas Mattos (Wikiaves)
Juliane Tavares (Presidente Figueiredo - AM)
Manoel Vicenti da Costa e família (BR174 - km76)
Márcio Trevisan e familia (Chapada dos Guimarães - MT)
Margi Moss (Brasília - DF)
Marja Milano, Ciça, Anne e equipe Fundação Neotrópica (Bonito - MS)
Maurinho do Roncador - MT
Milton Paula (Tocantins)
Nereu Surui (Professor da Escola Surui)
Nicolaas e familia - RPPN Sonho Meu (Tibagí - PR)
Pompeo Fotografias (São Paulo)
Renato Gama (Ilha de Santa Catarina)
Roberto Percinoto (Rio de Janeiro)
Robson Czaban (Manaus - AM)
Santana (PM de Manaus - AM)
Seu Paulo e Dona Graça (BR319 - Rio Novo - AM)
SPVS - Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (PR)
Thiago Laranjeiras, Bia, Seu Iran, Branco e equipe (PARNA Viruá - RR)
Thop Midia - Produção agência de notícias (Alta Floresta - MT)
Vítor Piacentini (USP)
Vitoria Riva e equipe Cristalino (Alta Floresta - MT)


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Aves do Pantanal





O Poster de Aves do Pantanal segue o mesmo padrão de qualidade da primeira edição do Poster de Aves da Floresta Atlântica que ganhou uma segunda tiragem, revisada e atualizada. Ambos contaram com a parceria institucional da SPVS, Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental e revisão científica de Vítor Piacentini, do Museu de Ornitologia da USP.

Para adquirir o Poster das Aves do Pantanal

Entre em contato com riodasfurnas@gmail.com

Fotos utilizadas no Poster estão inteiras e originais na Caixas de Aves

Também levamos as Caixas de Aves dos biomas visitados, uma peça personalizada com as fotos originais utilizadas na confecção dos posters. Mais detalhes clique aqui.


Veja alguns detalhes do Poster de Aves do Pantanal








Biomas brasileiros

Criado, fotografado e elaborado dentro da Reserva Rio das Furnas durante quase 10 anos, o primeiro Poster não demorou a bater asas e ganhar o Brasil e alguns países. A experiência com esse trabalho nos permitiu desenvolver o Poster de Aves do Pantanal em menos de um ano, o que significou um passo adiante na rota dos biomas brasileiros.

A ideia é percorrer os biomas brasileiros e desenvolver um Poster para cada um. Nossa rota ainda está indefinida e, tal qual aconteceu no Pantanal, será construída a partir de contatos por email, encontros, amizades e dicas antes e durante a expedição. 

Este ano pretendemos ir ao Amazonas orientados pelo amigo e ornitólogo Vítor Piacentini. Desta vez buscaremos as aves daquele bioma e levaremos as que temos em mãos, num troca-troca de passarinhos com as escolas que vão sendo contactadas pelo caminho e são indicadas por amigos, como temos feito até agora.

Roda de Passarinho

Roda de Passarinho na Escola de São Leonardo. A Caxola estava lá.

Desde o início nossa ideia foi apresentar as aves para os alunos do ensino fundamental Brasil afora, através da Roda de Passarinho, atividade que desenvolvemos há anos na Escola de São Leonardo e no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil-PETI, em Alfredo Wagner. 

Inspirados nas descontraídas rodas de conversa, samba e chimarrão, criamos essa, por onde circulam fotos de aves, penas, ninhos, sons, papos sobre hábitos, habitats e preservação ambiental. Até criamos um mascote, a Caxola de Ideias, com uma caixa de papelão virada do avesso, que já ganhou um companheiro no Pantanal, feito pelas crianças do Instituto Familia Legal.

No final de nossa atividade as crianças recebem uma fotografia 13 x 18cm de uma ave identificada e a sala, um Poster. Para o Pantanal levamos as aves da Floresta Atlântica, as mesmas que seguirão conosco para o Amazonas, enquanto que para os alunos de cá vamos mostrando as aves de lá. Devagarinho expandiremos nossa Roda que já esteve no Uruguai

Expedição ao Pantanal: Buraco das Araras

Ela sabe que é linda e charmosa ao ser fotografada

Edson Endrigo nos deu a primeira dica: Buraco das Araras. Um adjetivo para o local? Estupefaciente. Voos impressionantes de araras nos fizeram perder algumas fotos por conta da emoção, sentimento que fotógrafo deveria deixar de lado, mas também apanhamos do foco automático da EOS 5D que perdia-se no emaranhado de cores vibrantes que só neurônios especializados conseguiam definir.
Com calma conseguimos capturar os maravilhosos Udú-de-coroa, Anambé e Inhambú-chororó para o Poster.

Ainda em Jardim, na nossa segunda parada, capturamos casais de mutuns e bicos-de-agulha; o espetacular Araçari-castanho; Tucano-toco e alguns papagaios. Todos aparecem no Poster, menos o casal de Fim-fim (Euphonia chlorotica) que ficou com cara de pinto-molhado debaixo da primeira e única chuva da expedição, no Camping de Dona Henriqueta que cruza o Rio da Prata.

Bonito

A Caxola ganhou um namorado em Bonito, olha a cara de felicidade da danadinha!

Tietta Pivatto e Daniel de Granville, foram fundamentais para o sucesso de nossa expedição ao Pantanal. Além de nos apresentarem a Walkiria do Instituto Família Legal, onde aconteceu a primeira Roda de Passarinho, também foram responsáveis pela fantástica subida ao Rio Paraguai.

Com os alunos do Família Legal tivemos uma bela surpresa, pois identificaram certinho os cantos e hábitos de várias aves, recordação das oficinas promovidas pela Fundação Neotrópica, como nos contou Marja Milano, quando visitamos a sede da Fundação.

Ainda em Bonito fomos apresentados ao guia Antonio Carlos Candido, através do casal Siro Sirgado e Jô, com quem saímos para conhecer o Morro do Mateus e um belo trecho nas margens do Rio Formoso. Essas saídas deram ao Poster uma simpática Ema (Rhea americana), João-pinto (Icterus croconotus) e a magnífica Arara-canindé (Arara ararauna).

Bodoquena

Dona Edir e Luciana, do Instituto Educacional Serra da Bodoquena.

Siro e Jô - agora morando em Bodoquena – também nos apresentaram à madrinha dos Kaduweu, dona Edir que nos levou até seu Antonio Paraguai, onde fotografamos a Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus) que aparece no Poster. Dona Edir também nos levou até Luciana, coordenadora do Instituto Aroeira, onde aconteceu a segunda Roda de Passarinho e, de quebra, na saída do Instituto fotografamos um casal de periquitos-rei (Aratinga aurea).

A madrinha dos Kaduweu também nos levou até a cabeceira do Rio Betione, local de nossa pernoite e avistamento do Sanhaçu-do-coqueiro (Tangara palmarum).

Welcome to Pantanal

Fabiano, da Pousada Aguapé: passarinhada inesquecível.

Na primeira descida, saindo de Bodoquena, vislumbramos o vasto Pantanal com suas pequenas elevações e um mar de vegetação baixa e cerrada em volta dos morros que de tempos em tempos transformam-se em ilhas.

Nossa próxima parada foi no Camping da Pousada Aguapé onde esperávamos chegar até o alvorecer, mas a estrada-das-costelas-de-vaca que liga a BR262 ao nosso destino fez com que a marcha fosse diminuindo, diminuindo até quase parar num sufoco de poeira com direito a incêndio na beira da estrada e tudo. A estradinha é simpática, vale a pena, só não viaje à noite porque a vontade é dar meia-volta e acampar na beira da BR...

Já na beira do Rio Aquidauana, após um banho regenerador e descanso merecido conhecemos o seu João, proprietário da Aguapé e “pai adotivo” do Endrigo, frequentador da pousada há anos. 

Fomos apresentados ao Fabiano, que nos guiou a uma passarinhada inesquecível. Da Aguapé trouxemos para o Poster o Príncipe-negro (Aratinga nenday), Gavião-preto (Urubitinga urubitinga), Biguatinga (Anhinga anhinga) e o raro Pica-pau-de-testa-branca (Melanerpes cactorum).

Estrada Parque

O Élcio nos acompanhou até o fim da linha, na Estrada Parque.

Sonho de todos que viajam ao Pantanal, a Estrada Parque nos recebeu com pegadas Tuiuiú logo na primeira parada. Um problema: muitos caminhões indo e vindo por conta da destruição das pontes, pois as chuvas daquele ano foram uma das maiores dos últimos tempos. 

Mesmo assim, conseguimos chegar ao Camping da Pousada Passo do Lontra no final de mais um dia. Nesse oásis de cavaleiros, turistas e pescadores fotografamos o Pica-pau-branco (Melanerpes candidus), Garça-real (Pilherodius pileatus) e o magnífico Surucuá-de-barriga-vermelha (Trogon curucui).

Pioneiros do ecoturismo

Élcio: absolutamente integrado ao seu ambiente pantaneiro.

Élcio Rodrigues da Silva nasceu em 12 de janeiro de 1971 em Corumbá. Sua mãe, Solane Fretes da Silva é Paraguaia e o pai Ramon Rodrigues da Silva veio de Cuiabá muito novo. Élcio Pantaneiro, como é conhecido, foi um dos primeiros a se embrenhar no coração do Pantanal com turistas estrangeiros. 

Conhecemos essa pessoa tranquila através de uma indicação do único barzinho na Estrada Parque, após sairmos do Camping Passo do Lontra em direção a Corumbá. 

Passamos alguns dias ao seu lado, conhecemos o Rio Abobral e um pouco da vida desse guia apaixonado pelo Pantanal. Ouça a conversa que gravamos com Élcio

Corumbá

Lindos bailarinos na Roda de Passarinho do Moinho.

“Não porque seja minha terra, mas vocês tem que ir até Corumbá, conhecer o rio Paraguai”, com essa frase cheia de sorrisos o Élcio nos desejou boa viagem e fomos em frente. Nossa vontade era ir pela Estrada Parque, passar pela borda da Nhecolândia, conhecer a Curva do Leque, Porto da Manga, mas não conseguimos; a Estrada Parque estava interditada e a BR262 seria o único caminho.

Chegando em Corumbá fomos ao Moinho Cultural, a convite de Viviane Fonseca Moreira, Bióloga e Gestora do Setor de Meio Ambiente do Instituto Homem Pantaneiro, com quem Daniel de Granville já tinha nos conectado por email. Nesse antigo moinho, no Porto Geral de Corumbá, recuperado e transformado em Ponto de Cultura, fizemos nossa Roda de Passarinho entre ensaios de bailarinos. 

No pátio, estacionados em nossa casamóvel, tivemos belas surpresas, tanto com o carinho do Espirito, zelador do local, como da passarada que dividia espaço com músicos que ensaiavam para um espetáculo.

Escola Jatobazinho

Na volta ao Jatobazinho o abraço de queridos amigos.

A convite de Viviane embarcamos na segunda-feira de manhã para conhecer a Escola Jatobazinho e lá apresentar nossa Roda de Passarinho. Coordenada por Jéssica Marcelle Cedron de Souza do Acaia Pantanal, fomos recebidos com carinho e tamanha foi nossa surpresa ao perceber que ela própria nos havia cedido o seu quarto, com ar-condicionado e tudo! Porque faz tanto calor no Pantanal, de cozinhar o miolo! Porém, com um detalhe: nos disseram que o calor mal havia chegado, imagine...

Numa coincidência generosa nossa visita aconteceu com a volta às aulas. Muitas rabetas encostaram no porto do Jatobazinho com famílias inteiras trazendo seus filhos para a escola. Ares de despedida, rever amigos de sala, de quarto, professores amigos, merendeiras, toda uma equipe preparada para mais uma jornada de aulas.

Foram dias maravilhosos em que fomos recebidos com muito carinho por toda a equipe da Escola. A fauna da região é muito rica e de lá trouxemos Asa-branca (Dendrocygna autumnalis) e Xexéu (Cacicus cela) para o Poster das Aves do Pantanal.